Sejam elas boas ou ruins, é natural na vida de qualquer pessoa que nossas experiências nos moldem – muitas vezes marcadas por uma situação violenta, constrangedora, ou que não estamos realmente prontos para encarar. A partir disso, essas experiências podem se tornar bases de um trauma – tanto físicos quanto emocionais. Talvez o trauma esteja na dificuldade em perdoar – bastando uma situação parecida para trazer tudo à tona – ou em atitudes que tomamos sem nem mesmo sabermos o que levou a determinado resultado. Na realidade, esses traumas já nos definem e permitimos que nos conduzam, e quando não trabalhamos numa forma para tratar, se já nos enterramos em nossas angústias, só contemplamos as consequências. E é sobre os traumas físicos e emocionais que um dia nos marcaram, que o intenso drama “The Sinner” tratou.
A minissérie – se for renovada, estará pronta, para mais uma vez, ser chamada de série, num formato antológico – do canal USA composta por oito episódios é baseada no livro homônimo de Petra Hammesfahr, trazendo Jessica Biel interpretando Cora Tannetti, em um momento de lazer num rio com o seu marido Mason Tannetti (Christopher Abbott) e filho Laine Tannetti (Grayson Eddey). Subitamente enfurecida, ela esfaqueia um homem acompanhado das presenças de seus amigos. Agora tendo que responder pelo seu crime, Cora recebe a ajuda do investigador Harry Ambrose (Bill Pullman) para tentar entender o porquê de ter feito o que fez.
“The Sinner” já inicia determinada a prender o telespectador ao nos colocar a par do que se passa com Cora, o que já aponta um acerto necessário – para não desistirmos logo no primeiro episódio – visto a atmosfera lenta que compõe a minissérie, para depois chocar com o ocorrido já citado e nos instigar sobre o que está acontecendo.
Conforme acompanhamos, é possível pensarmos que temos o mistério resolvido, que o enredo será previsível e com tamanha enrolação até relevar tudo… Mas calma, porque “The Sinner” se propõe a entregar um pouco mais a fim de alcançar o objetivo da sua história. Vale ressaltar que os roteiristas conseguiram conduzir bem os demais personagens, não de maneira interessante, mas pelo menos o suficiente, enquanto trabalhava em Cora com incrível atuação de Jessica Biel. Enquanto sua narrativa é focada em dois tempos, nos flashbacks – com recursos manjados para manter o suspense – e o presente de Cora, com competência, o tom lento pode, novamente, atrapalhar o tão bom desenvolvimento e fazer a minissérie parecer arrastada, apesar de poucos episódios e duração de quarenta minutos.
Ainda que não seja totalmente perfeita, “The Sinner” alcançou com maestria o que queria alcançar com a trajetória de Cora Tannetti, e caso não volte para um segundo ano, garantiu com que pensemos em nossos traumas e cicatrizes, nos levando à reflexão de que nem sempre o que fazemos é culpa dos martírios que sofremos e do passado que carregamos conosco.
Felipe Oliveira
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