Quem não gosta de uma boa trama de mistérios capaz de envolver facilmente, não é mesmo? Poucas são as respostas, mas só o caminho em meio a tantas incógnitas já torna a experiência um prato cheio a se degustar. Como esquecer “The Leftovers”, “Lost”, “Orphan Black”, “Fringe”, Under the Dome, “Legion”, sendo que elas construíram o apelo para o público driblando tão bem o suspense, sci-fi, filosofia e religião sem deixar fraquejar? Claro que a nova aposta da Netflix, “The I-Land” tinha um intuito de ser misteriosa, sagaz, instigante num número limitado de episódios, mas, acima de qualquer recurso que a enriquecesse, ser pretensiosa foi como determinar a própria sentença.

Título: The I-Land
Ano: 2019
Criação: Neil LaBute
Estrelas: 1/5
O que você faria se acordasse numa ilha, sem nem ao menos lembrar do seu nome, ao lado de outras nove pessoas? O desespero pode ser a reação imediata, mas em “The I-Land”, colocar dez desconhecidos em um lugar isolado e com zero motivo aparente é semelhante a um reality show tão pobre que só sabe esbanjar um roteiro calculado e resultado tosco.
Assim se inicia a minissérie da Netflix, e antes de qualquer tentativa minuciosa para tornar o enredo atraente, o programa já se sabota. Nem dá tempo para se especular e muito menos o mistério se instaurar (e pra quem assistiu o trailer a coisa só piora) o espectador é surpreendido por um leque de personagens desinteressantes com suas personalidades manjadas conversando sobre uma trama também manjada tornando tudo um porre de assistir.
Sabe quando alguém quer se gabar e arranja o jeito mais ridículo possível? Bem, “The I-Land” faz assim, a diferença é que você não vai precisar disfarçar a expressão de “para que tá feio”, pois essa empreitada da Netflix acredita mesmo no desempenho de seu material mal executado.

E fica ainda mais lamentável quando nem mesmo a protagonista Chase (Natalie Martinez) escapa da chatice que são os personagens, pois ela é quem carrega o fardo de ter de perceber as coisas estranhas mais rápido, querer fazer alguma coisa a respeito, enquanto os outros preferem se banhar na praia. É chocante o fato de que terão que buscar recursos para sobreviverem, vestindo a mesma roupa com que acordaram não ser nenhum motivo para questionarem o porquê de estarem numa ilha.
A julgar pelas migalhas de informações que surgem, parecia que os dez desconhecidos teriam uma árdua missão para cumprir no local, até baterem de frente com a realidade em que se encontram. Mas a verdade é que “The I-Land” se perde rapidamente no que vai introduzindo, tornando detalhes que poderiam dar um norte para trama em meras coincidências e contextos sem sentido.
O mais engraçado é que a minissérie é mais uma daquelas histórias que estão ruins, mas o público continua acompanhando na expectativa de que valerá a pena. A caminho do segundo tempo, a oportunidade de abranger a mitologia aparece, mas o problema é que a atração não sabe transitar no próprio universo sem soar superficial, e para cada porta que se abre, é como se estivesse gritando o quanto é espetacular. Mas de fato é: presunçosa, oca, atiçada, formulada, apática e leviana.

O último grito que resta vem do público ao perceber que a ideia aqui era realmente muito boa, mas que carece de uma direção mais habilidosa para tornar o resultado mais proveitoso. O porquê de dez pessoas estarem numa ilha já é uma ponta curiosa, e a reflexão por trás de um conteúdo raso e duvidoso era sim poderosa e relevante, contudo, a série se permitiu cair nas graças de uma construção vista em tantas obras.
Apesar dos fraquejos, é manifesta a mensagem de que na falta de arrependimento, o homem tem a tendência de se auto corromper pelas próprias inclinações de outrora, e que tendo o arrependimento, se tem a chance de recomeçar para melhorar. E ainda mais fascinante, é que a coisa toda é sobre a possibilidade de reintegração.
O frustrante é que, em sete episódios, “The I-Land” percorreu por uma trilha tortuosa, repleta de incoerências, fantasiadas de uma trama “complexa” que mais conseguia irritar do que empolgar.
Felipe Oliveira
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