Toda experiência no cinema é única. Levar a pipoca, o refrigerante, as guloseimas e lanches gordurosos, são detalhes que acabam somando para o filme que iremos assistir. Transportar as expectativas junto à película escolhida pode muito bem influenciar na opinião final, mas, há algo de valioso em pagar para ver na tela grande sem muito preparo e em troca ficar perplexo. A nova investida de Ang Lee, “Projeto Gemini”, traz para os amantes da Sétima Arte um formato inédito para ampliar a análise cinematográfica, contudo, tal formato precisa ser lapidado para ser melhor aceito.

Título: Projeto Gemini (“Gemini Man”)
Ano: 2019
Direção: Ang Lee
Pipocas: 6/10
Na história que traz um elenco de peso, Will Smith vive Henry Brogan, o melhor assassino profissional do mundo, mas que vê sua cabeça ameaçada pela antiga agência de defesa para a qual trabalhava, quando decide se aposentar. Além de ter a vida por um fio, ao mesmo tempo em que tenta sobreviver, Henry descobre que possui um clone. Envolto num segredo obscuro, o agente implacável terá de desvendar a terrível trama para se manter vivo.
Pela descrição, perceber-se que “Projeto Gemini” não se trata de algo inovador, e que é comum esbarrarmos em enredos com tais inspirações. Mas a curiosidade está exatamente nisso. Em nenhum momento na divulgação foi omitida a trama policial de um importante agente sendo caçado por alguém idêntico a ele na sua forma mais jovem; as maiores apostas foram feitas nos materiais de ponta usados para a filmagem do filme, e o que isso proporcionaria à audiência.

Filmado em extrema qualidade (na maior taxa de frames, em 120), realizado por uma câmera 3D nativa (rejeitando a conversão depois de uma gravação convencional) “Gemini Man” (no original) oferece para apreciação da computação o 3D+ exibido a 60 quadros por segundos (um up para os 24 normalmente oferecidos). O resultado se mostra empolgante durante as cenas de ação, altamente intensas, conseguem alcançar o propósito de mais imersão e injetar adrenalina para o espectador na poltrona. Ainda assim, para um público não familiarizado com os 60 FPS, enquanto rodar os jogos nessa quantidade de frames é sinônimo de melhor fluidez, aqui as seletas sequências explosivas parecem que foram avançadas na edição.
Não só pelas cenas impetuosas, o 3D+ valeu também para aproveitarmos a captura de movimento e rejuvenescimento usada em Will Smith. O cuidado para transmitir naturalidade e fisgar a credibilidade de que há duas pessoas idênticas contracenando é notável e Ang Lee seguiu com planos fechados arrancando o máximo das expressões faciais do protagonista. Apesar disso, não foge aos olhos quando a captura derrapa com o abrir e fechar de boca durante os diálogos.

Indo além da beleza dos quadros, “Projeto Gemini” faz um bom proveito do elenco. Inserindo um humor que acerta no timing, o retrato que fica ao juntar Mary Elizabeth Winstead, Benedict Wong e Smith é como de uma equipe num típico filme de espionagem, o que funciona. Mas quem se sobressai de verdade é Mary. Vinda de papéis memoráveis em obras dramáticas e de suspense, a atriz se apresentou voraz e poderosa nas cenas de ação. Com bala na agulha e treinamento aguçado, sua personagem poderia ser mais primorosa, se não estivesse apenas como suporte ao protagonista.
Mesmo se deslocando em diferentes ambientações para explorar a ação, o longa detém uma subtrama interessante para falar de humanidade. A ideia de trazer um clone como um precursor da trama foi uma alegórica conversa sobre o que constitui nossas virtudes. Foi como sentar na frente do espelho e confrontar nossas escolhas e características mais pertinentes, escavar e encontrar as raízes de traumas e arrependimentos e nos questionar: o que ainda nos faz humanos? Novidade zero, contudo, funciona.
Por mais imbatíveis e fortes que tentemos parecer, não ter emoções e a ausência da dor é negar a humanidade que poderíamos praticar. É como um machucado dolorido: magoá-lo faz lembrar de poder sentir alguma coisa. A todo momento, “Projeto Gemini” não deixa de desenvolver seu arco dramático com um texto repleto de frases de efeitos, mas que não deixa de funcionar para a proposta manjada sobre o que nos faz humanos.

Assim, essa mais nova façanha de Ang Lee entrega um resultado frenético de ação, esbanjado em 60 FPS e um 3D vantajoso, que dentro disso, trabalhou com tantos recortes de tramas vizinhas, que mais parece ter selecionado uma história pré-pronta para inserir o esquema de clonagem.
E no mais comovente relato sobre a humanidade, foi como ter a última colagem para esse retrato de coisas tão comuns para o gênero sci-fi. O que valeu em “Projeto Gemini”, foi a demonstração divertida do que teremos para o 3D daqui para frente.
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Felipe Oliveira
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