Quem acompanha o mercado de quadrinhos sabe que Rafael Albuquerque é um dos artistas que tem levado o nome do Brasil para o mundo todo com trabalhos excelentes e que ganham cada vez mais reconhecimento de público e crítica. Com 35 anos, trabalhando principalmente na DC Comics, Rafael é dono de um traço singular e muito marcante que já ilustrou roteiros de Stephen King, Scott Snyder e, atualmente, estará na adaptação para HQ do conto A Study in Emerald de ninguém menos que Neil Gaiman.
Nós tivemos um papo curtinho com o artista sobre sua carreira, suas obras e o seu modo de trabalho, como você poderá ler abaixo.
PontoJão: Recentemente, você fez uma breve participação no programa Zero1 da Globo. Você já tinha tido alguma experiência semelhante?
Rafael Albuquerque: Já havia participado de programas de TV antes, mas foi a primeira vez que me levaram para o Rio apenas para uma gravação. Foi bem divertido.
PJ: Como foi ganhar do Tiago Leifert no Injustice? Ele parecia meio histérico (haha).
Rafael Albuquerque: Haha, foi sorte de principiante mesmo.
PJ: Agora falando um pouco dos seus trabalhos, American Vampire foi um tremendo sucesso e teve assinatura de Stephen King em suas primeiras cinco edições. Qual é o seu relacionamento com a obra de King e como foi desenhar roteiros assinados por ele?
Albuquerque: Na época eu apenas havia visto alguns filmes adaptados da sua obra. Depois que me ofereceram o projeto, comecei a ler alguns livros dele, e não me arrependi. Ele é incrível. Um verdadeiro mestre. Ter trabalhado com ele foi uma grande honra.
PJ: No Zero1 você disse que gosta bastante da Batgirl e, em uma entrevista ao 2Quadrinhos, você falou que, não pretendia trabalhar com a personagem, mas se animou com o projeto ao ver o trabalho da equipe anterior e saber que teria Hope Larson nos roteiros. Como é trabalhar com a personagem nessa fase em que ela se encontra atualmente?
Rafael Albuquerque: Sempre gostei muito do trabalho independente da Hope, e quando me disseram que ela seria a nova escritora achei que era a pessoa certa para a revista. Consegui me ver desenhando a personagem por que queria fazer algo diferente do que estava fazendo, e olhando para as edições, acho que fizemos um bom trabalho.
PJ: Ainda sobre Batgirl, é impossível não falar sobre a polêmica arte para a comemoração do aniversário do Coringa. Você e a equipe resolveram não levar a capa à frente. Como você enxerga essa decisão hoje e você gosta daquele desenho?
Albuquerque: Existem vários motivos, mas optar por não publicar a capa não tem a ver com a qualidade do desenho e não apenas por que pessoas se ofenderam. Tem a ver com o fato de que a visão que os autores na época queriam para a Batgirl era uma visão bem mais leve e feminista. Eu não sabia disso quando desenhei a capa, e quem conhecia, entendeu minha referência. Mas a revista foi remodelada para leitores, e especialmente leitoras, mais jovens, o tom foi completamente mudado, então esse novo público não tinha obrigação nenhuma de conhecer minhas referências, entende? Se a capa que eu desenhei não representa a revista que estava sendo feita, a capa não funciona. Indiferente se o desenho é bem feito ou não. Agora, olhando em retrospecto, acho que foi um problema que veio pra bem. A confusão toda abriu meus olhos para muitas coisas dentro da indústria, como ela é machista e acaba, infelizmente sendo um reflexo da nossa sociedade também. Se isso serviu para começarmos a falar mais sobre isso, e repensar algumas idéias antiquadas, já valeu muito a pena.
PJ: Li Ei8ht recentemente e fiquei encantado! Tem alguma previsão para as continuações?
Albuquerque: No momento estou escrevendo o volume dois. É difícil falar de uma previsão de quando isso vai sair, até por que tenho estado muito ocupado com outras coisas, mas devo terminar o roteiro do volume dois até o fim do ano e ano que vem devo começar a desenhar.
PJ: Durante um período, você conduziu simultaneamente American Vampire e Ei8ht. Trabalhar em projetos simultâneos é algo que você faz com frequência? Como é o seu cronograma para desenhar?
Albuquerque: Naquela época eu era mais jovem e tinha mais energia para isso. Hahaha. Eu sou um artista rápido, e consigo fazer dois projetos ao mesmo tempo, mas cada vez menos me vejo com pique para isso tudo. Prefiro fazer um projeto por vez, mesmo.
PJ: Na hora de desenhar, você costuma ouvir música? Se sim, quais artistas ou bandas entram na playlist?
Albuquerque: Depende do momento. Na hora de escrever ou ler o roteiro e layoutar as páginas, eu preciso de silêncio, ou perco a concentração. Mas gosto muito de ouvir música quando estou arte finalizando ou colorindo. Escuto de tudo mas geralmente rock clássico.
PJ: Como você vê o papel da Stout Club (editora que Rafael fundou com amigos) no mercado brasileiro de quadrinhos?
Albuquerque: Acho que sou uma das poucas pessoas incapazes de responder essa pergunta, pois vejo tudo de dentro. Gosto de pensar que fazemos bons quadrinhos.
PJ: Qual é a relação da Stout Club com novos artistas? Vocês recebem ou procuram trabalhos novos de autores iniciantes?
Albuquerque: Nossa regra é trabalhar com gente que é legal e talentosa. O material tem que ser bom, é claro, mas tem um aspecto de relação pessoal que para nós é essencial. Só trabalhamos com amigos, e não recebemos projetos não solicitados.
PJ: Para encerrar a entrevista, gostaria que você pensasse em alguém que, pela primeira vez, vai ler qualquer coisa que você já tenha desenhado. Quais seriam as suas 3 principais recomendações para essa pessoa?
Albuquerque: Eu preciso citar quatro. 🙂
VAMPIRO AMERICANO, ALL STAR BATMAN, EI8HT e HUCK.
A gente ficou muito contente de fazer essa entrevista e ressaltamos as recomendações do desenhista e se você curtiu a entrevista entre nos nossos grupos do Facebook ou do Telegram e fale pessoalmente!
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