Sentei eu e meu pai para ver o piloto da nova série do MacGyver. Eu, ansioso por participar de algo tão clássico da cultura pop, nunca assisti nenhum episódio da série antiga, exceto curtos trechos. Meu pai, fã da série antiga, estava ali mais para me acompanhar do que por ansiedade para ver mais um remake.
Ambos assistimos, um gostou mais do que o outro; um remake bem sucedido em sua nova proposta, mas que incomoda os saudosistas. Essa é a nova “MacGyver”.
Angus MacGyver (Lucas Till, o Alex Summers de “X-Men”) é um agente de uma organização secreta do governo – tão secreta que nem a CIA sabe que eles existem. Em missões complexas, MacGyver se destaca por sua incrível capacidade de improviso; um clipe de papel, um chiclete e trinta segundos no relógio são mais perigosos na mão desse agente do que uma arma para um homem comum. Com o auxílio de sua equipe composta pelo brutamontes Jack Dalton (George Eads, de “CSI”) e a hacker onipotente Riley Davis (Tristin Mays, “The Vampire Diaries”), MacGyver será capaz de derrotar qualquer oposição para cumprir as missões dadas por sua chefe Patricia.
A história do piloto é absurdamente clichê, beirando o plágio. Enquanto a linguagem e trilha sonora faz referência a “Onze Homens e Um Segredo”, e principalmente à série “Leverage”, a trama e adversidades que MacGyver enfrenta remontam a “Missão: Impossível” (que foi uma série antes de ser um filme, só lembrando) e… Qualquer série de espionagem de que você se lembre. Em suma, ela mantém o ritmo de ação-com-comédia que ganhou relevância (e bilheteria/audiência) na virada do século XXI.
Assim sendo, quando a originalidade não é o ponto forte, cai para o carisma a responsabilidade de fazer tudo funcionar. Lucas Till e companhia conseguem levar a série sem dificuldade; mesmo Jack, o batedor caricato, consegue tirar sorrisos da audiência. Entre planos mirabolantes e efeitos cômicos (aprendemos neste piloto que um acidente de duas lanchas causa uma explosão maior do que uma bomba), a série consegue ser convincente quando precisa e ativar nossa suspensão de descrença no resto do tempo.
Porém aí, nesse ponto, eu e o senhor meu pai discordamos. Meu pai comentou como o MacGyver atual é muito mais novo do que o original, e que “para ter todas essas habilidades, ele precisa de mais anos de experiência, né”. Eu, por outro lado, vejo nesse MacGyver, especialista em qualquer coisa com vinte e poucos anos, um reflexo da nossa sociedade que força os jovens a serem prodígios em pelo menos uma área antes dos 30.
O episódio acabando, meu pai parecia meio contrafeito. Perguntei o motivo e ele deu um muxoxo, encolhendo os ombros. “Isso não é MacGyver”, ele disse, indo para o banheiro. “É ‘Missão: Impossível’, talvez, mas não é MacGyver”, e eu discordei. Sendo a essência do personagem o cara dos improvisos que não usa arma de fogo, temos o personagem icônico bem presente na série, mesmo que traduzido para novos tempos.
O que falte, talvez – e nisso pai e filho concordaram -, é o tom de frescor que a série original tinha, e que hoje não há mais – mesmo com as várias tentativas de referenciar o clássico. Contudo, era muito mais fácil ser criativo na explosão da TV dos anos 80 do que o é hoje, quase quarenta anos depois. O melhor que um remake de série pode se pretender a ser hoje é efetivo, atual e divertido, e isso o novo MacGyver consegue ser. Com um elenco que já dá sinais de que melhorará o entrosamento com o tempo, tecnologias atualizadas (e extrapoladas) e um ritmo que faz o episódio passar rápido, “MacGyver” já fez um truque fantástico, fazendo 11 milhões de audiência em uma sexta-feira (um dia historicamente fraco). Cabe ver se ele consegue continuar essas manobras o resto de seu ano de estreia.
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